Mulheres no poder e em importantes cargos públicos constantemente são alvos de críticas ou até mesmo chacota sobre sua aparência, tendo muitas vezes sua inteligência e capacidade ignoradas em prol do que se é visto: uma roupa cara ou barata, uma produção em excesso ou até o desleixo com a falta de vaidade. Mas vestir-se de acordo com o cargo/função que se exerce vai além do gênero e isso deve ser levado em consideração por ambos os sexos.
A segunda temporada da série “A Diplomata” estreou na Netflix no final de outubro e esquentou ainda mais a conversa sobre o tema “aparência X poder” com um trecho em que a protagonista, a embaixadora Kate Wyler (papel de Keri Russell) recebe uma “aula” da vice-presidente Grace Penn (Allison Janney) sobre como a imagem desleixada reflete diretamente em como seu trabalho é interpretado, já que pra embaixadora, a forma de se vestir era um mero detalhe.
Pra quem não viu a série, a trama gira em torno da diplomata norte-americana Kate Wyler que é nomeada como embaixadora dos Estados Unidos na Inglaterra. O cargo seria uma espécie de “esquenta/teste” para uma futura substituição da então vice-presidente, mas Kate precisa avançar em alguns pontos, sendo um deles a mudança de imagem. Avessa à questão da vestimenta, ela se veste de forma extremamente tradicional, com ternos em cores escuras – no geral preto e azul-marinho – para transmitir respeito, maturidade e credibilidade.
Estilo tradicional
Um ponto forte do guarda-roupa tradicional é a atemporalidade das peças, transmitindo a sensação de confiança, estabilidade e profissionalismo, mas ao mesmo tempo temos uma questão aqui: o visual pode parecer monótono, rígido ou até mesmo antiquado. As peças são marcadas pelo design de alfaiataria clássica, formas estruturadas, linhas retas, camisas e twin-set. E um ponto fundamental: tudo de muita qualidade, é claro. Os terninhos usados na série são da marca nova-iorquina Theory, que custam cerca de R$ 8 mil. Já as camisas de seda da marca californiana Vince, variam entre R$ 5 e R$ 7 mil. Reforçando o perfil prático da personagem, a bolsa a tiracolo quebra a formalidade do visual. Mas apesar de ter peças muito bem-feitas e ser uma mulher extremamente capaz, isso não foi o suficiente por conta do conjunto: postura e estratégia de imagem foram pontos questionados na série.
Em momentos-chaves vimos a inclusão de cores totalmente fora do comum para a protagonista que usou preto durante quase toda a primeira temporada, com direito a um grand finale com um sensual vestido vermelho, acirrando a questão sexual que existe com o personagem do Ministro das Relações Exteriores (David Gyasi). O cabelo, na maioria das vezes solto, também muda em ocasiões que exigem formalidade: sempre um coque baixo.
E claro, a escolha do vestido da marca Galvan London (com adaptações por parte do time de figurino) não foi em vão. “Ela (a embaixadora Kate) entende que precisa sair da sua zona de conforto e usar o vestido vermelho é uma necessidade e não um luxo pra ela dali em diante. Você pode vê-la acordando (e entendendo) o que ela precisa fazer para chegar onde tem que estar como diplomata e como alguém preparada para a vice-presidência”, contou o figurinista da primeira temporada, Roland Sanchez, em material de divulgação da Netflix.
A série reforça como a imagem pessoal é fundamental no ambiente de trabalho e como isso faz parte de uma estratégia para avançar e alcançar lugares que você quer chegar. Por isso, vista-se de acordo com o cargo que você gostaria de ter, e além disso (que é o básico do básico), seja um profissional excelente para exercer seu ofício com primor. A cena marcante da segunda temporada ilustra muito bem a importância da adequação.

© Foto divulgação Netflix


“Vivemos em um mundo visual. Ninguém vai ler seus tratados de política. Já seu rosto vai aparecer na mídia doze mil vezes por dia. Você tem algumas escolhas: use terninho como os militares usam farda e desapareça. Esconda a pessoa atrás do dever de servir. Ou use um artifício. Batom vermelho, óculos, um acessório que expresse a sua personalidade”, destacou a vice-presidente Allison Janney durante uma conversa com a personagem da embaixadora Wyler. Uma lição de moral em forma de conselho que gera uma certa mudança de postura na protagonista. Mas paro por aqui para não dar muito spoiler caso você não tenha visto ainda.
“A série reforça como a imagem pessoal é fundamental no ambiente de trabalho. Por isso, vista-se de acordo com o cargo que você gostaria de ter”
@Daniela Gaia